[Artigos do Expresso] Ingleses e pacientes na final da Liga dos Campeões

[Recuperação de um arquivo desaparecido, com a publicação de artigos que, ao longo do tempo, foi escrevendo para o Expresso. Este foi escrito em maio de 2019.]

O finalista vencido da época passada, o Liverpool, e o Tottenham, que nunca marcou presença em qualquer final da competição, são as duas equipas inglesas que decidirão, entre si, a conquista da Liga dos Campeões 2019. O palco é o Estádio Metropolitano de Madrid, casa do Atlético de Madrid, na primeira final sem concorrente e vencedor espanhol depois de uma série de cinco conquistas de Real Madrid e Barcelona. Será na capital espanhola que se marcará uma nova era de domínio inglês na Liga dos Campeões?

As eras da história

O ano de 1968 marcou a primeira presença de um clube inglês, o Manchester United, numa final da Taça dos Campeões Europeus, tendo garantindo o cetro perante o Benfica. Foram precisos nove anos para que uma equipa inglesa voltasse a vencer, iniciando em 1977 a primeira era do domínio inglês nesta competição, com Liverpool (por quatro vezes), Nottingham Forest (duas vezes) e Aston Villa a somarem sete títulos em oito possíveis. 1999 voltou a ser um ano inglês, depois de uma ausência das competições europeias devido ao mau comportamento dos seus adeptos, com a conquista épica do Manchester United. A segunda era de domínio inglês foi um pouco mais humilde. Seis finais com equipas de Inglaterra em sete possíveis, entre 2006 e 2012, mas apenas dois títulos, de novo para o Manchester United, em 2008, na única final inglesa de sempre, até agora, perante o Chelsea, conjunto que venceria, depois, em 2012. Nos últimos cinco anos a vitória sorriu a equipas espanholas e apenas se registou uma presença inglesa na final do ano passado. É em Espanha, mais concretamente em Madrid, que voltamos a ter uma final com dois participantes ingleses.

Liverpool à procura da segunda oportunidade

Os Reds procuram alcançar um feito que só o AC Milan e o Bayern Munique conseguiram garantir. Ser vencedores da máxima competição europeia depois de ter perdido a final do ano anterior. Foi assim com os italianos em 1994 e com os alemães em 2013. Do onze titular que, há um ano, em Kiev, perdeu para o Real Madrid, só o guarda-redes Loris Karius, para muitos visto como um dos “culpados” da derrota, não se manteve no plantel de Jurgen Klopp. A caminhada de regresso à final começou, exatamente, com a contratação do brasileiro Allison para a baliza do Liverpool, depois de uma grande temporada na AS Roma. Mas, para falar de segundas oportunidades, é preciso perceber que os Reds fizeram uma temporada épica a todos os níveis. Apenas uma derrota na Premier League que os fez entregar o título, por um ponto, ao Manchester City. Uma Liga dos Campeões feita de provas de sobrevivência. Na fase de grupos perderam todos os jogos fora, mas alcançaram o apuramento para os oitavos-de-final com uma defesa monumental de Allison no último minuto, frente ao Nápoles, na derradeira jornada. A vitória expressiva em Munique (3-1) depois de um empate caseiro perante o Bayern e uma goleada de 4-0 depois de ter perdido por 0-3 em Barcelona na primeira mão das meias-finais tornam a presença na final uma história de renascimento. Um renascimento que se quer comprovado na final de Madrid, devolvendo um título europeu que escapa ao Liverpool desde 2005.

Tottenham em ciclo de afirmação

Desde que em 1992 se instituiu a Premier League no topo do futebol inglês até à chegada de Maurício Pochettino ao clube, apenas por duas vezes o Tottenham tinha terminado entre os primeiros quatro classificados da competição. Em cinco anos nos Spurs, o treinador argentino completa uma série de quatro presenças entre os melhores de Inglaterra. Esse feito permite-lhe também que, à terceira presença consecutiva na Liga dos Campeões, feito nunca antes alcançado, tenha a sua primeira presença numa final. O Tottenham é, desta forma, um clube em ciclo de afirmação, ainda que recorrendo a uma política singular entre todos os clubes de topo do futebol europeu. A última contratação realizada pelo clube data de janeiro de 2018, o que significa que nas últimas duas janelas de mercado o Tottenham não realizou qualquer transferência para fortalecer o seu plantel. O jogador que chegou ao clube há cerca de ano e meio acabou, curiosamente, por ser a grande estrela da carreira dos Spurs nesta edição da Liga dos Campeões. Cinco golos marcados, todos eles decisivos. Na fase de grupos, o primeiro tento no empate no terreno do PSV Eindhoven, quando a equipa ainda não tinha vencido qualquer jogo, e o tento de outro empate, aos 85 minutos da derradeira jornada, no campo do Barcelona. Na segunda mão das meias-finais, a tripla de golos que ofereceu o bilhete da final em Amesterdão, com o toque de heroicidade do último golo ter chegado mesmo em cima do minuto 95, o último da compensação. É uma época de milagres que resultam de um fantástico trabalho coletivo, à procura de coroação no jogo deste sábado.

Vencer em Madrid será, em qualquer dos casos, a afirmação de projetos pacientes e definidos na sua identidade. Jurgen Klopp e Maurício Pochettino tiveram o tempo para instalar as suas ideias em grupos que foram construídos peça a peça para evitar fragilidades, com o Liverpool a ser mesmo indicado como um caso de estudo na utilização da análise de dados na formação da sua estrutura. É também por aí que a nova era do domínio inglês se faz. Cada vez mais, na forma como é tratado o conhecimento gerado em volta de uma equipa. Enquanto em campo a emoção continua a comandar os acontecimentos.

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