[Artigos do Expresso] Os 5 pontos que faltavam à Liga Portuguesa 2018/19

[Recuperação de um arquivo desaparecido, com a publicação de artigos que, ao longo do tempo, foi escrevendo para o Expresso. Este foi escrito em maio de 2019.]

Acabou a edição 2018/19 de uma Liga portuguesa na qual as frases feitas parecem ter sido contrariadas a toda a linha. O campeão terminou a época com um treinador em estreia e um craque recém-chegado ao futebol profissional, o vice-campeão apostou tudo na experiência e falhou o título, o Sporting renasceu nas asas de um jogador que elogia rivais em público e a Europa já não é o desejo da classe média. Tradição, só a do Tondela, que voltou a salvar-se na última jornada. São estes os 5 pontos que faltavam para fechar de vez esta época da Liga Portuguesa.

Sei o que fizeste no inverno passado

A história, já se sabe, tende a ser escrita pelos vencedores. No entanto, ouvir Luís Filipe Vieira afirmar, no balneário da equipa, que teve “uns tomates muito fortes” não apaga o facto de Presidente do Benfica ter visto uma luz e ter sentenciado que os adeptos do Benfica ainda haveriam de ter saudades de Rui Vitória. Graças a Bruno Lage, isso não vai acontecer. Promovido da equipa B num momento em que ninguém acreditava que a época encarnada tivesse salvação, fez aquilo que qualquer técnico em qualquer parte do mundo deve fazer se quer alcançar o sucesso: colocar em campo o melhor jogador que tem no plantel (independentemente de todos os ses). Com João Félix no corredor central, o Benfica encontrou-se com o seu destino, que acabou fortalecido com o melhor momento de Gabriel, Rafa e Seferovic cde águia ao peito, mais a recuperação de Samaris e a promoção de Ferro e Florentino ao onze. O título encarnado foi conquistado no campo, sem qualquer interferência presidencial. Mas em dia de festa não há memória que resista.

Pelo seguro e aconselhado pela experiência, não há quem

Foi uma má época para ir pelo seguro. O FC Porto seguia isolado no primeiro lugar da Liga NOS quando, no mercado de inverno, aproveitou o facto de Pepe estar sem contrato para fortalecer o único setor do plantel que não precisava de melhorias, tendo em conta as boas prestações de Éder Militão e Felipe no centro da defesa. A chegada do internacional português, por si só, é uma boa decisão de gestão. A forma como a sua integração foi feita na equipa é que demonstra que as boas intenções podem ter pérfidas consequências. Sérgio Conceição, pela primeira vez, tomou uma decisão que levou em linha de conta o estatuto dos seus jogadores. Pepe avançou para central, Éder Militão deslocado para a direita e, no espaço de um mês, empatou fora com Vitória de Guimarães e Moreirense e perdeu, em casa, frente ao Benfica. O técnico portista sabe que, esta temporada, lhe pediam uma consistência que o seu plantel não garantia. Levou a equipa a duas finais de Taça e aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, melhorando globalmente a prestação da equipa, mas ao falhar o título não deixa de acabar a época com a sensação de que foram as suas decisões a ceder o primeiro lugar ao rival.

Os heterónimos de Bruno Fernandes

Continua a ser possível escrever direito sobre linhas tortas. O Sporting começou a temporada em risco de vida, com José Peseiro a assumir um lugar que poucos quereriam. Apesar do futebol da sua equipa não ser promissor, deixou o Sporting a dois pontos do primeiro lugar da Liga. Depois da passagem de Tiago Fernandes, Marcel Keizer foi o técnico escolhido por Frederico Varandas para colocar em campo a visão da nova presidência. Do trabalho do holandês, entre um início promissor, a vitória na Taça da Liga e a chegada à Taça de Portugal, pode dizer-se que os resultados justificaram a mexida. Mas é em Bruno Fernandes que parece alicerçado todo o sucesso vivido pelos leões na presente época. O jogador do Sporting foi o mais decisivo elemento em campo na Liga Portuguesa, foi o líder de balneário que a equipa leonina precisou em vários momentos (até na forma como, depois de um período menos bom, “exigiu” esclarecimentos a Keizer), sendo também o jogador que, fora do campo, mais lutou, pelo exemplo, para a pacificação e normalização do ambiente futebolístico. Bruno Fernandes foi tudo isto e, a confirmar-se a sua saída, deixa um vazio difícil de preencher.

Europa não, obrigado

O SC Braga não alcançou a fase de grupos da Liga Europa mas nem assim acabou por mostrar mais na Liga do que aquilo que era encarado como mínimo olímpico. Em seis jogos frente aos três grandes, perdeu cinco, somando apenas uma vitória por 1-0 na receção ao Sporting. Na próxima época, voltará a entrar na Liga Europa pela porta das pré-eliminatórias, um caminho complexo até para um conjunto como o bracarense, vários degraus acima da concorrência que o segue na classificação do nosso campeonato. O Vitória de Guimarães terminou em quinto lugar, vencendo na derradeira jornada o Moreirense, a principal revelação coletiva da Liga, mas que nem se chegou a candidatar à presença nas competições europeias, algo também repetido pelo Belenenses SAD. Parece cada vez mais “normal” que as equipas pequenas portuguesas rejeitem presenças na Europa. Um sinal dos tempos que não promete nada de bom para a classe média do futebol luso.

Tondela à flor da pele

Em quatro temporadas que leva na Liga, o Tondela terminou três delas a agarrar a manutenção na linha da meta. A final de ontem, frente ao Desportivo de Chaves, confirmou a evidência de que equipas com identidades bem definidas superam as restantes. A equipa de Pepa tentou, durante toda a temporada, apresentar um futebol de qualidade, mesmo quando os resultados pareciam não sublinhar a coragem do jovem treinador. O Tondela festejou enquanto condenava o Desportivo de Chaves a um regresso à Segunda Liga, castigando-se desta forma a péssima gestão da administração na escolha de treinadores com ideias e estilos de jogo radicalmente diferentes uns dos outros. Para o Nacional da Madeira e o Feirense, os outros dois despromovidos, o reconhecimento das fragilidades que os seus projetos apresentavam. Na próxima época, está de volta um poderoso Paços de Ferreira, um renascido Famalicão e a incógnita Gil Vicente. Começam-se a contar os dias para a bola voltar a rolar em jogos de campeonato.

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