[Recuperação de um arquivo desaparecido, com a publicação de artigos que, ao longo do tempo, foi escrevendo para o Expresso. Este foi escrito em julho de 2019.]
No próximo fim-de-semana começa, oficialmente, a temporada nacional das equipas da Liga portuguesa, com a Supertaça a reunir Benfica e Sporting no Algarve, enquanto catorze outras equipas vão a jogo na 2ª eliminatória da Taça da Liga. Momento para analisar as promessas e impressões que foram deixadas numa pré-temporada onde só o campeão parece ter a casa arrumada para o desafio que está prestes a começar.
Tudo para o merecer
Os treinadores do três grandes adotaram posturas diferentes ao longo da pré-temporada. Enquanto Bruno Lage demonstrou vontade de afirmar um modelo de jogo que assumiu com a sua chegada à equipa principal encarnada, testando opções e procurando encontrar respostas dentro do seu plantel para as lacunas em aberto na equipa, Marcel Keizer focou todo o seu trabalho na preparação para o encontro da Supertaça, apostando num onze fixo que se preocupou, acima de tudo, em criar as condições para ser um conjunto competitivo nessa primeira final da época.
O Benfica tinha como principal missão substituir João Félix, saído para o Atlético de Madrid, e os 20 milhões de euros investidos em Raúl de Tomás (RDT) não deixam dúvidas de que é o espanhol a peça encontrada para o fazer. No entanto, RDT não será alguém que chega para cumprir com a mesma missão de Félix. Num ataque a dois com Seferovic, caberá ao suíço encontrar espaços para utilizar a mobilidade que lhe é característica, enquanto RDT tem a capacidade para ser um homem de área dominante na realidade do campeonato português. Ao mesmo tempo, o plantel do Benfica aposta profundamente na juventude que se transformou em imagem de marca, com Ferro e Florentino a garantirem-se como parte dos insubstituíveis para 19/20.
Já na equipa verde e branca tudo parece ser feito com esforço. Bruno Fernandes, como seria de esperar, é o sol à volta de quem tudo roda. Seja no meio ou a partir da faixa, o capitão de equipa cria perigo e oportunidades como mais nenhum companheiro, enquanto se vai fintando a possibilidade de sair ainda em agosto para outro campeonato. O próprio Marcel Keizer confirmou, ontem, que a sua maior preocupação está nos jogadores com que vai poder contar esta época. Como se a mesma começasse, já, preparada para uma série de etapas necessariamente diferentes. Para já, procura-se enfrentar a Supertaça com o onze onde Bruno Fernandes manda. Depois, confirmando-se ou não a sua saída, logo se verá.
A missão entregue ao FC Porto para este verão era a mais exigente. O plantel ficou esburacado, com a saída de jogadores essenciais como Casillas, Éder Militão, Felipe, Herrera e Brahimi, pelo que o trabalho de substituição de peças obrigava a um forte investimento dos portistas, algo que, a nível financeiro, parecia difícil de executar. Promoveu-se, assim, a aposta na frente de ataque, com a chegada de Zé Luís, Shoya Nakajima e Luís Diaz, num total de 29 Milhões de Euros, para uma zona do terreno onde, para já, também se deverá contar com Soares, Aboubakar, Marega e Corona. Na linha defensiva as apostas recaíram no regresso de Iván Marcano e na contratação de Renzo Saravia (um lateral-direito que não deslumbrou na pré-época).
Lá estão eles a vacilar
A pré-temporada não se fez, no entanto, sem os seus casos. O principal dos quais foi o desencontro entre Sérgio Conceição e Danilo, que levou a que o capitão dos portistas falhasse os últimos dias do estágio no Algarve. A exigência colocada na transformação do plantel e as várias lacunas que este ainda apresenta (na baliza e no meio-campo) fizeram soar os alarmes de uma gestão emocional que raras vezes foi o ponte forte do técnico azul e branco. Já na Luz foi na baliza que se viveu a telenovela deste verão. A procura de uma alternativa a Vlachodimos chocou com a realidade dos testes médicos do italiano Perín, pelo que o grego formado na Alemanha entra na nova temporada como opção única para a baliza encarnada.
Em Alvalade, o jogo da espera pela proposta para Bruno Fernandes tem levado ao levantar de outras hipóteses de negócio que deixam Bas Dost e Luiz Phellype na liça. Matheus Pereira, esse, nem chegou a ser apresentado, enquanto o mais caro dos reforços leoninos, Valentin Rosier, se encontra ainda a recuperar de uma lesão que o mantém fora dos relvados desde fevereiro passado. Pressão a aumentar, também, para o argentino Vietto, que ainda parece procurar o melhor espaço de afirmação numa equipa que sente problemas nos momentos em que não tem bola. Uma preocupação para Marcel Keizer resolver com a chegada de jogos a sério.
Vacilações é o que espera evitar o SC Braga que, entrando uma vez mais como mais forte candidato ao quarto lugar da tabela, acaba resguardado num discurso bastante menos ambicioso do que em temporadas anteriores. O Vitória de Guimarães e o Rio Ave mantém as suas sólidas apostas em tentar chegar à Europa, enquanto o Famalicão é o conjunto candidato a revelação nesta prova. Para já, surpreende pela intervenção no mercado, com uma série de jovens jogadores oriundos de Inglaterra e Espanha.
É, aliás, no mercado, que se marcam novas tendências na Liga portuguesa. O Portimonense reafirma o seu foco no mercado japonês, com as chegadas de Anzai e Sugajima, a quem se junta o Marítimo com a chegada do avançado Maeda. O Desportivo das Aves pesca no Egito, com a chegada de Kahraba, e no Irão, com a contratação de Mohammadi, enquanto o Rio Ave vê chegar o também iraniano Taremi. Por sua vez, o Belenenses SAD recebe cinco jogadores emprestados pelos franceses do Lille. A presença de técnicos portugueses pelo mundo e o fortalecimento de redes a partir das Ligas onde há mais poder financeiro serão parte das razões para estas novidades.
Toda a gente convencida que tem muito para dar, como cantam os Glockenwise, nem todos preparados para as desilusões que os jogos a sério acabam, sempre, por oferecer.
Luís Cristóvão 