[Recuperação de um arquivo desaparecido, com a publicação de artigos que, ao longo do tempo, foi escrevendo para o Expresso. Este foi escrito em julho de 2019.]
Em vésperas de ver a 81ª Volta a Portugal partir para a estrada, fomos viver um dia nas corridas, para conhecer por dentro como se constrói o pelotão. Organização, corredores, equipas e apaixonados. Todos têm lugar no enorme coração do ciclismo.
Para Albert Einstein, a “vida é como andar de bicicleta, para manter o equilíbrio é preciso manter o movimento”. Na estrada, o equilíbrio é muito mais do que uma questão da teoria da física. Desde os passos necessários para colocar uma corrida na estrada, à forma como cada equipa e cada corredor se prepara para atacar o seu objetivo. Um equilíbrio que passa pela força mental, pela união quase familiar que se cria entre todos aqueles que vivem no pelotão e em seu redor, pela capacidade de sofrer e ter prazer com a mesma humildade que caracteriza os que sabem ser mais uma peça de uma enorme engrenagem que transforma o ciclismo numa roda-viva de emoções à flor da pele. Desde tudo o que é preciso organizar para que a prova parta para a estrada até ao momento em que a corrida chega ao fim.
Quilómetro zero
As equipas vão-se agrupando junto ao ponto de partida. Sente-se no ar a relação natural com uma rotina muitas vezes repetida. Primeiro os carros vão ocupando o espaço antes vazio. Depois as bicicletas que vão sendo retiradas e montadas, revistas uma a uma, confirmando-se o seu estado. Não se sente azáfama alguma, tudo parece feito dentro do tempo, ao contrário das pessoas da organização que, essas, seguem agora em ritmo de corrida bem mais intenso. Cada ciclista tem a sua rotina própria. Alguns sentados, talvez mais experientes, esperando pacientemente o momento de pegar na bicicleta. Outros, mais jovens, logo devidamente equipados, como que cumprindo um ritual que, de modo a não falhar, precisa de uma ordem de repetição mais rápida, claramente ensaiada. À volta dos carros vão também sendo revistos equipamentos, ferramentas, águas, tudo o que possa vir a fazer falta na hora da prova. Na estrada não haverá tempo para interrupções.
Quando a direção da prova chegou ao local da partida, já tudo estava montado e o parqueamento vai-se fazendo conforme à ordem de saída de cada viatura, com a caravana publicitária na frente, a comunicação social, alguns convidados, o comandante do destacamento da GNR, o Diretor da Prova, um número alargado de motas, da GNR e da organização, o carro de apoio neutro, o carro do comissário, todos aqueles que veremos a acelerar pela estrada à frente dos ciclistas, para que, atrás deles, o carro do comissário presidente, o do médico, mais apoio neutro, mais todos os carros das equipas, ambulâncias e, finalmente, o carro vassoura. A passagem do tempo faz-se ao ritmo de uma autêntica estafeta. Os que se apressaram a montar as estruturas descansam, agora, junto ao café, onde estão tantos outros que só mais tarde entrarão em funções.
Junto das equipas já todos parecem, agora, equipados, e acelera-se o passo para assinar o livro-de-ponto, para se rever um último cuidado necessário devido à dureza das etapas anteriores. A comunicação social percorre livremente o espaço, tal como uns quantos adeptos, amigos e familiares dos corredores. É a familiaridade que se destaca. Conhecem-se todos de outras tantas voltas. Conhecem-se os diretores, os técnicos, os mecânicos. Conhecem-se as famílias. Abraçam-se, enquanto conversam e se recolhem as ideias do que poderá passar. A estratégia do ciclismo define-se na estrada. Baseia-se no conhecimento do percurso e dos concorrentes, no plano que se pensou até chegar ao dia da prova, mas vive-se, sobretudo, do momento, das sensações da estrada, da capacidade física de cada um. As expetativas animadoras todos têm. No fim da corrida, no entanto, só um acabará por ganhar.
Falta cada vez menos tempo para o início da etapa. Cerca de vinte minutos, naquele que será um dos momentos mais tranquilos do dia. Como se, na organização, se esperasse apenas o soar do tiro de partida para que tudo voltasse a ser ação. Como se, entre os ciclistas, tivessem agora a perfeita noção do que se seguirá e que a única forma de o enfrentar é, mesmo, respirar fundo, esperar. O ambiente das conversas vai-se acalmando e levando para um silêncio que toma cada um dos que andam em volta do ponto de partida, apesar da música e das palavras animadas do speaker que tem a missão de manter a excitação elevada. Contam-se os minutos para o início da corrida e todos os ciclistas estão agora no local da partida simbólica, à espera do sinal. As pessoas da organização e das equipas vão correndo para os respetivos carros, enquanto a polícia ocupa os seus lugares. Está tudo pronto para que se inicie a corrida. Na derradeira frase do speaker ecoa um “está dada a partida!”
A meta onde der mais jeito
A preparação da corrida começou muitos meses antes de ela ir para a estrada. Meses de preparação que obrigam a que a candidatura junto da UCI, a União Ciclista Internacional, se realize mais de um ano antes da data da prova. Depois, há que definir o conceito da prova, definir o seu trajeto, preparar toda uma estrutura que vai acompanhar cada momento da competição, desde bem antes da sua passagem pela estrada. A definição dos pontos de meta de montanha, metas volantes ou pontos quentes obedece a um equilíbrio entre aquilo que o terreno oferece e a vontade de patrocinadores que poderão definir a presença de uma meta à sua porta. Nesta definição do puzzle da corrida, muitas vezes, a meta fica onde der mais jeito, mas essa é uma pequena exceção a uma realidade que é cuidada ao pormenor, como podemos entender ao acompanhar Francisco Manuel Fernandes, presidente da organização do Grande Prémio de Torres Vedras/Troféu Joaquim Agostinho há quarenta e dois anos.
Cada dia de prova começa muito cedo, com a marcação final das estradas que vão ser percorridas. Colocação de metas, de sinalização de quilometragem até à chegada, das estradas que vão ser encerradas temporariamente para que o pelotão passe. Para além da estrutura humana pertencente à organização, existe um enorme apoio de funcionários dos municípios envolvidos e de forças de segurança, essenciais para demarcar o percurso. No secretariado da organização, a azáfama também começa muito antes do sinal de partida. As pessoas com as mais diferentes funções vão chegando e comentando as incidências do dia anterior, o que correu bem ou mal, o que ainda está por fazer, como estará o tempo durante o dia. Tudo é importante, diria mesmo, fundamental, pela antecipação que acaba por jogar um papel definitivo na forma como a prova pode ser avaliada e o vencedor encontrado. Entre todos, motociclistas e comissários, repete-se o mantra, “o importante é segurança dos ciclistas, é para isso que cá estamos”.
A vida na estrada
Arrancaram as motas, os carros e os ciclistas e, poucas centenas de metros percorridos, o comissário presidente inicia o teste ao rádio, tentando contactar com as restantes viaturas. Reparada alguma falha na comunicação, aproximamo-nos rapidamente da partida real da corrida, ponto a partir do qual começam, também, as escaramuças na frente do pelotão, com as primeiras tentativas de fuga, duas ou três, todas goradas, até ao ponto em que as equipas que lideram a competição acabam por permitir que uma fuga resulte. No horizonte vai-se perdendo de vista uma visão de montes e vales recortados pelas estradas. Uma boa parte das provas realiza-se neste ambiente de penetração na profundidade do território, na descoberta de estradas que se vão seguindo umas às outras, definindo os cuidados que se diferenciam entre Estradas Nacionais e Estradas Municipais, que revelam as pequenas obras realizadas em tempos recentes.
Dentro do pelotão, a conjugação entre ciclista, carro e mota é uma equação em constante questionamento. Os comissários dividem-se entre as duas e as quatro rodas, aliando-se com os agentes de segurança para definir uma disciplina férrea na conjugação de todos os elementos. Viaja-se parte do circuito junto do carro de abertura e a experiência é impactante. Um carro da GNR com a sirene ligada avança pela estrada avisando os automobilistas que surgem em sentido contrário ou se aprestam para entrar na via onde passará o pelotão. Em pontos estratégicos estão já outros elementos da GNR, a pé, para manter essa ordem. Logo de seguida, duas ou três motas asseguram-se que os automobilistas pararam todos a sua marcha. Ordens mais agressivas, motas paradas no meio da estrada, dedos em riste. Começam a passar os primeiros carros da organização e a partir daí não pode haver falhas.
Depois há toda uma dinâmica de apoio, abastecimento e cuidados médicos que têm que ser prestados, sempre, em movimento. O rádio-volta é uma constante de informação, dos dados dos ciclistas em fuga, a sua passagem nas diferentes metas, até à chamada constante dos carros de apoio para prestar auxílio a um furo ou a uma queda, à necessidade de abastecimento. Pelo meio, entram ainda alguns carros da caravana publicitária ou da comunicação social, em constante procura de equilíbrio entre o viver a etapa para a transmitir a quem segue à distância e o cumprir das regras predeterminadas. Uma frase ouvida dentro de um carro, “no ciclismo, onde não passam dois carros, passam três”. A capacidade dos motoristas é desenvolvida ao longo de anos de prática. Porque, do nada, a poucos metros da viatura aparece um fugitivo que tenta escapar-se aos companheiros e a solução passa por atravessar em aceleração uma povoação de ruas apertadas e curvadas, cheias de população que quer ver é os corredores.
Há uma outra frase muitas vezes repetida entre quem anda pelo ciclismo, na tentativa de definir esta modalidade. Com variantes, dizem-me que o “ciclismo é o único desporto que vai até ao quintal, à casa das pessoas”. A vida na estrada demonstra-nos isso na prática. A forma como a velocidade dos carros e as sirenes rasga a acalmia dominante numa série de vilas e aldeias. Os primeiros sinais dos homens em fuga, que passam como um leve assobio à nossa frente. Mais motas, mais carros, mais sirenes. E depois o furioso ruído do pelotão, impositivo, pesado, a oferecer-nos a sensação de esmagamento. Mais carros, ainda mais carros, uns que apitam, outros que procuram ajudar alguém que se atrasou. A fechar, o carro vassoura, o carro do condutor solitário que de janelas abertas e música alta vive na sua própria realidade, aqui e ali pegando um último desistente que nem o carro da sua equipa apanhou. E logo o silêncio. O silêncio outra vez.
Volta, o grande objetivo
O principal momento competitivo para todas as equipas portuguesas é a Volta a Portugal, que, na sua 81ª edição, se disputa entre 31 de julho e 11 de agosto, com dez etapas divididas por um dia de descanso, somando 1518,5 quilómetros entre Viseu e Porto, com descidas no mapa até Santo António dos Cavaleiros e subidas até Bragança. Serão vinte equipas em competição, nove delas portuguesas, as restantes chegando de Espanha, França, Israel, Letónia, Irlanda, Suíça, Colômbia, Angola e África do Sul. Entre os conjuntos lusos, o W52-FC Porto, da categoria Continental Profissional, entra como favorita, com a Efapel, a Aviludo-Louletano, a LA Alumínios-LA Sport, a Miranda-Mortágua, a Rádio Popular-Boavista, o Sporting-Tavira, o Oliveirense-InOutBuild e o Vito-Feirense-PNB, equipas continentais, a completarem o pelotão.
Para Joaquim Andrade, diretor desportivo do Vito-Feirense-PNB, o planeamento da Volta começa no início da temporada. “Temos logo uma ideia dos corredores que vão participar e planeamos a temporada de acordo com o grande objetivo que é a Volta”. A organização do calendário de corridas para cada atleta desenha-se, então, nessa lógica, de modo a atingir o ponto alto da sua forma no início de agosto. As equipas têm diferentes participações no estrangeiro, focando-se, em Portugal, num calendário de provas que inclui a Volta ao Algarve, Volta ao Alentejo, Grande Prémio das Beiras e Serra da Estrela, Troféu O Jogo, Grande Prémio Jornal de Notícias, Grande Prémio Abimota, tendo no Grande Prémio de Torres Vedras/Troféu Joaquim Agostinho o último momento de competição antes da Volta.
Um dos momentos importantes, em termos de treino, é o estágio em altitude, definido por um período entre quinze a vinte e um dias, o que, no caso de João Benta (Rádio Popular-Boavista) ou Tiago Machado (Sporting-Tavira), os deixou de fora desta última prova. Joaquim Andrade sublinha que, neste tipo de estágio, é salvaguardado o factor individual de cada um “porque alguns não se sentem bem neste tipo de treinos, aproveitando esse período para reconhecimento de subidas na Serra da Estrela”, onde decorreu o estágio dos atletas do Vito-Feirense-PNB, “e para aperfeiçoar a sua forma física”. Joaquim Andrade acumula uma longa história no ciclismo. Filho de Joaquim Andrade, que venceu a Volta a Portugal em 1969, tem o seu nome gravado no World Guinness Book of Records por ter participado e completado vinte e uma participações na Volta a Portugal entre 1989 e 2009. O seu filho, Pedro Andrade, também faz parte do plantel da equipa de Santa Maria da Feira.
“A minha filosofia leva-me a construir equipas que sejam um misto de experiência e juventude. Ter corredores mais velhos permite-me não ter que estar constantemente focado nos pormenores. A aprendizagem de quem já passou por isto vale muito nos conselhos que são passados. Por vezes há aquela ideia de que as coisas já não são como eram, o que até pode ser verdade em alguns aspetos técnicos na aproximação do pelotão à meta. Mas os essenciais são iguais. O treino, a alimentação, a recuperação e o descanso são dados que não variaram assim muito. Há uma série de pequenos saberes empíricos que podiam parecer não ter importância nenhuma e que hoje acabam por haver dados científicos que comprovam a sua utilidade”.
Faz parte do processo
Entramos no coração da corrida pela mão de Joaquim Andrade. “O mais importante é sempre a condição física, mas o reconhecimento do percurso também é importante, o saber o que nos espera. Numa etapa de montanha temos que conhecer bem a subida, mas também é decisivo conhecer bem as descidas. Mas as chegadas ao sprint são um pouco mais complexas. Mesmo depois de fazer o reconhecimento, no próprio dia as coisas podem ser diferentes, a abordagem a uma rotunda pode mudar o fim da etapa.” Daí a importância de alargar a estrutura da equipa para complementar a informação que chega da parte da organização, com dirigentes ou massagistas que repetem a abordagem à meta para perceber “a colocação das baias, uma pequena obra, o risco da meta estar cem metros à frente ou atrás daquilo que estávamos à espera, tudo tem importância”.
No meio da corrida, um momento especial é trazido pela passagem dos atletas pelos locais onde vivem. Percebe-se, de imediato, na aproximação, com os nomes pintados pela estrada, ou nos muros que a ladeiam, com mensagens de incentivo. Numa das etapas do Grande Prémio de Torres Vedras, António Bárbio, atleta do LA Alumínios-LA Sport, viveu essa experiência, com uma aldeia inteira marcada pela presença de cartazes e bandeiras, palavras de caras conhecidas, familiares. Por vezes, estas situações influenciam tentativas de fugas, para passar na frente numa meta ou num local onde se sabe encontrar quem os espera. Para Bárbio, nesse dia, “não estava bem na corrida, não estava a conseguir fazer o que queria, pelo que a emoção só chegou depois de passar a meta”. A meta. Para Joaquim Andrade, é também nesse momento que se define muito da capacidade do atleta numa prova de etapas.
“Mal o corredor corta a meta, temos alguém que lhe fornece hidratação. Depois depende um pouco da distância para o hotel. Se for perto, o corredor segue na sua bicicleta, com a hidratação e o lanche consigo. Caso contrário, toma um duche no autocarro e faz ali uma pequena refeição. No hotel, os corredores passam pela massagem e são vistos para perceber se há alguma lesão, alguma dor, ou uma queda que possa ter havido, algo que faz parte do processo. Depois do jantar, há um pequeno período de descompressão, que normalmente é aproveitado para uma pequena caminhada e depois o importante é dormir e descansar”. Trata-se de um ciclo que é repetido ao longo da temporada, com especial foco numa prova de etapas como é a Volta a Portugal. Uma repetição que mexe, e de que maneira, com o aspeto mental de cada atleta. “Numa competição como a Volta todos os pormenores contam e os mais jovens, por vezes, querem ir falar com os amigos que estão por ali, com a família, e nós temos esse cuidado de evitar que se distraiam. Cada minuto de atraso na recuperação pode levar a que, mais tarde, paguem a fatura. E há tempo para tudo. Os mais experientes sabem e já não precisam destes conselhos. Aliás, muitas vezes, esta recuperação começa ainda durante a prova. Para aqueles que já completaram o seu trabalho e não estão envolvidos na luta da etapa, começam logo a pensar na sua recuperação e não há problema de perder alguns minutos”.
O ciclismo é uma festa
Poucos dias na estrada bastam para entender a paixão que se vive no ciclismo. António Teixeira Correia, jornalista e speaker da Volta a Portugal com milhares de quilómetros a acompanhar a modalidade, é um exemplo vivo dessa entrega à modalidade, pela quantidade de histórias que sabe, pela forma como debita dados de épocas sucessivas, pela maneira carinhosa como aborda cada ciclista como se fosse um seu familiar. E, no meio do pelotão, tantos outros com quem nos vamos cruzando e que transmitem essa festa que é vivida por todos os demais que vêem a corrida a passar. O ciclismo começou por ser uma modalidade de espera. A antecipação que se constrói durante o dia quando se sabe que os corredores vão passar à porta de casa. Porque o ciclismo é, também, uma modalidade de ver passar. A construção competitiva faz-se, muito, na imaginação, porque quem vê a corrida vê, quase sempre, apenas um pequeno episódio, em formato acelerado, daquilo que passa numa rua, numa estrada. O ciclismo passou, depois, a ser uma modalidade de televisão. A Volta a Portugal ocupava verões inteiros na televisão e nos jornais, onde se aprendia o que era a alegria e o sofrimento, o que era o esforço e a desistência, que o mediatismo tanto poderia aparecer na conquista da etapa e da camisola amarela, como na entrevista radiofónica ao último classificado da geral.
O ciclismo é uma modalidade que pede sol, para que as pessoas possam sair à rua, incentivar os corredores, beber umas cervejas e comer umas bifanas em pequenos aglomerados que se geram à volta do percurso onde acontece a competição. É uma modalidade que se constrói de história, porque os anos que se sucedem trazem, para a memória daqueles que o acompanham, pequenas tramas que se fundem numa maior narrativa que é um livro vivo da modalidade em Portugal. Como o caso de Henrique Casimiro que, há seis anos, chorava atrás do pódio do Grande Prémio de Torres Vedras, ao receber a notícia da perda de um filho que estava para nascer, e este ano venceu essa mesma competição, com o pequeno Diogo ao colo, a relembrar tudo aquilo que deixou para trás.
É como a corrida que vai terminar. Os comissários de meta já subiram uns degraus para definir o primeiro a chegar, enquanto os seus colegas observam a trajetória do sprint. O relato do speaker vai ganhando intensidade, a música bem alta, com uma batida forte, num crescendo de emotividade. As pessoas foram chegando e acotovelam-se atrás das baias de segurança, o mais perto da meta possível. Agora, toda a festa se foca, por momentos, na pequena faixa de estrada que se mantém descoberta no meio da multidão. Vai-se anunciando a chegada dos ciclistas, estão cada vez mais perto, e muitos já sonham com o pódio, as camisolas, os beijinhos e abraços aos vencedores. Contam-se os segundos, juntam-se as sirenes e as buzinas das motas, os corredores chegaram. Alguém ganhou.