Começar da pior forma, para acabar a sonhar com mais. Portugal empatou com a Suíça numa jornada inaugural do Grupo C que deixa tudo em aberto para os jogos seguintes. Duas equipas saíram desta jornada com estatuto reforçado, enquanto a equipa inglesa não convenceu, apesar de ter estado num jogo que bateu recorde de assistência.

É como acaba que interessa
Quando aos cinco minutos de jogo está a perder por 0-2, o que pode uma equipa fazer? Francisco Neto e a seleção portuguesa deram uma resposta de gabarito, com uma exibição convincente e uma recuperação que nunca antes tinha acontecido em Europeus de futebol feminino. Na primeira vez que uma equipa conseguiu recuperar de uma desvantagem de dois golos ao intervalo nesta competição, as portuguesas saem satisfeitas com a reação, mas não podem deixar de sair frustradas com o resultado final. Os dois erros do início da partida foram pagos a um preço altíssimo, acabando Portugal por ser a equipa que mais oportunidades criou, acabando por justificar uma vitória que ficou perto de acontecer, como contará o poste da baliza suíça onde embateu um forte remate de Telma Encarnação.
Demorou a chegar o primeiro remate, apenas aos 38 minutos, numa tentativa de Dolores que saiu bem longe do alvo. Sentiu-se o desconforto de Diana Silva na forma como tentava ocupar espaços nas costas das duas jogadoras mais adiantadas da equipa, acabando por não ser chamada ao jogo tantas vezes quanto seria desejável. Mas perante uma Suíça que se encolhia e se mostrava incapaz de gizar um contra-ataque, a qualidade em posse da equipa portuguesa e a libertação revelada após o intervalo deixaram claro como Portugal podia alimentar ambições nesta partida. A forma como anulou Lia Walti e reduziu as possibilidades de remate a Bachmann, Reuteler ou Crnogorcevic dizem muito da capacidade defensiva que a equipa acabou por revelar.
Regressemos ao minuto 5. Uma perda de bola em zona proibida e uma má abordagem defensiva num livre lateral ofereceram, grátis, uma vantagem que a Suíça nada tinha feito para conseguir. Foi a pior entrada de uma seleção neste Europeu e as imagens televisivas das lágrimas de Patrícia Morais, uma das guarda-redes suplentes, indicavam a tempestade mental em que a equipa se encontrou.

Comigo nos estúdios da Antena 1, a treinadora Susana Cova lembrava que estas jogadoras sentiam a responsabilidade de haver uma tão grande aposta nesta participação. O que a sua reação demonstrou é que as mulheres portuguesas não devem nada a ninguém. O investimento feito nesta equipa dá frutos e a forma como Portugal disputou a segunda parte fica como uma clara declaração de capacidades de uma equipa que tem nível para aqui estar.
Perspetivas positivas
O discurso mantém-se, Países Baixos e Suécia são as principais favoritas para avançar no Grupo C. O encontro entre estas duas seleções deixa, no entanto, perspetivas positivas. Nenhuma das equipas foi particularmente convincente, com o conjunto neerlandês a perder duas jogadoras com lesões e, como foi posteriormente anunciado, uma jogadora com COVID. Portugal tem até quarta-feira para encontrar a melhor forma de enfrentar uma equipa que parece ferida, mas que ainda é a campeã europeia em título.
Análise aos favoritos
França e Alemanha saem muito reforçadas no final desta primeira jornada. Ambas alcançaram goleadas frente a equipas que, apesar disso, parecem manter-se como candidatas a lutar pela presença nos quartos-de-final. Curiosamente, francesas e alemãs entravam na prova como equipas que eventualmente não estariam em condições de defender o estatuto de favoritas. A resposta foi clara. As francesas com um 5-1 frente à Itália, as alemãs com um 4-0 frente à Dinamarca. Muitos estarão hoje obrigados a rever a sua lista de favoritos para a final do Euro 2022.
Momento inesperado
O recorde de público num jogo de Europeu feminino foi batido no encontro de abertura, em Old Trafford, com 68.871 pessoas presentes. Mas também foi nesse jogo que a exibição de uma equipa terá deixado mais dúvidas no ar. É certo que a Áustria é uma equipa que vem de um Euro 2017 muito bom e revelou uma fortíssima organização coletiva. Mas a forma como a Inglaterra teve dificuldades para se impor no jogo não deixou de ser o momento mais inesperado desta primeira jornada.