Os problemas do Manchester United têm, hoje, raízes profundas na forma como se gere o futebol no seio do clube. Dessa série de problemas não se vê solução e a comunicação tem sido uma das falhas desta estrutura. Ora, é na comunicação do futebol que ainda há muito por fazer, na perceção de que todas as mensagens tocam dois lados. Porquê continuar a insistir em valorizar apenas um deles?
Manchester United, um labirinto de problemas
Quando, no final da época passada, Erik Ten Hag foi anunciado como novo treinador do Manchester United, não houve propriamente unanimidade na sua receção. Futebolisticamente, o técnico neerlandês fazia o caminho óbvio, depois de um grande trabalho no Ajax. Mas muitos se questionavam se o futebol é, realmente, a origem dos problemas que tocam o Manchester United. Não se precisou sequer de esperar pelo final do encontro da primeira jornada da Premier League para se começar a recolher provas disso mesmo. A tarefa de Ten Hag será hercúlea enquanto em Manchester não forem transformadas as bases de como se está a tratar o clube neste momento.
A construção do plantel foi dificultada pela não presença na Liga dos Campeões, onde todos os melhores jogadores querem estar, inclusivamente aquele que era visto como a grande figura da equipa. O verão de Cristiano Ronaldo foi infeliz a todos os níveis. A questão familiar trágica já preparava um quadro difícil de lidar. Não o ter assumido de uma outra forma, colocando imensa pressão no seu clube e no novo treinador, ter-lhe-á custado até uma melhor receção da parte dos adeptos. Não é por acaso que se questionam se os golos de Cristiano Ronaldo serão positivos ou não para o futuro do clube. Nem é no jogador que os problemas se centram. Mas Cristiano transformou-se num símbolo de uma gestão sem rumo e acabará por pagar também uma parte dessa transformação na qual ele não soube ter um papel mais clarificador ou apaziguador.
O anúncio do interesse em Arnautovic e a forma como os adeptos reagiram, tendo levado a esfriar a possibilidade de contratação do austríaco, vêm confirmar como o trabalho no United se vai fazendo de forma irracional. Por um lado, o facto de se tentar somar ao plantel mais um jogador veterano, com um perfil pessoal difícil e num momento da carreira onde dificilmente é diferenciador. Por outro, demonstrar que Ten Hag se foca demasiado em procurar jogadores com quem já trabalhou, em detrimento de tentar descobrir as melhores opções para o seu plantel. Finalmente, o tipo de jogador que, neste momento, vê o United como uma opção.
Trabalhar mal, comunicar mal e não obter resultados faz uma espécie de bingo para um gigante que sente as pernas pesadas para uma corrida onde, claramente, já parte atrás dos principais rivais. Fingir que nada disso precisa de uma solução mais clara, desculpando a incapacidade de Ten Hag para se impor nestes seus primeiros tempos ou transformando o problema de Cristiano Ronaldo numa novela cor-de-rosa, só vai agravar ainda mais a situação onde o United se encontrará nas próximas semanas e meses.
Saber comunicar o futebol
O enorme foco que se coloca na comunicação do futebol arrisca-se a esquecer que na conversa existem duas partes. Os clubes e os jogadores fazem um esforço hercúleo para comunicar mais e melhor, adaptando-se aos públicos que pretendem cativar, mas o futebol-espetáculo continua a precisar brutalmente do futebol-comunidade para existir. Também por isso é fundamental manter uma ponte com o consumidor do jogo e encontrar maneiras de alimentar essa proximidade que se vê como necessária para o crescimento e evolução dos clubes.
Procurar narrativas que encerrem discussões sobre temas do quotidiano dos clubes e dos jogadores é um esforço vão. Trata-se de uma espécie de autogratificação ver publicado num jornal ou escutar uma opinião na televisão que reforce uma única versão da verdade. Mas isso tem, hoje, mais efeitos negativos do que positivos. Quem a produz ainda não percebeu isso. Mas para quem escuta, mesmo num universo de opiniões, notícias e fábulas, essas verdades apenas se esgotam numa demonstração clara de ausência de espírito crítico. O próximo passo da comunicação dos clubes e dos jogadores terá que ser esse. Não basta estar nas plataformas, criar um cenário, esperar que o interlocutor trinque a bolacha que se ofereceu. É preciso convidar quem está do outro lado a envolver-se, a participar na produção da massa, escutando-o e ajudando-o a fazer parte daquilo que procuramos expressar.
Vivemos tempos de aprendizagem profunda, onde muitos ainda parecem algo perdidos ou desorientados perante a força dos acontecimentos. Essa aprendizagem faz-se a partir de erros cometidos, mas só poderá conseguir-se com uma maior capacidade de análise, de crítica, de perceção das diferentes realidades.
Fim-de-semana em quatro ligas!
Este fim-de-semana a ação começa na noite de sexta-feira, com o Freiburg – Borussia Dortmund a colocar duas excelentes equipas da Bundesliga em campo. No sábado, visita à Premier League para o duelo dos “portugueses” Wolves e Fulham, passando, no final da noite, pela Antena 1, para o Sporting – Rio Ave. No domingo, a entrada em grande na LaLiga, com o campeão (da Europa, da Liga e da Supertaça Europeia) Real Madrid a começar no terreno do Almería. Todos os jogos de futebol internacional passam, é claro, nos canais da Eleven Sports.