Portugal anuncia amanhã as suas escolhas para o Mundial 2022. Olhando aos princípios de Fernando Santos e focando as eventuais dúvidas, explico porque vejo serem estes os 26 nomes a serem selecionados.
Os princípios de Fernando Santos
À quarta grande competição de Fernando Santos com a Seleção portuguesa, já não haverá grande espaço para surpresas naquilo que são as escolhas do técnico português. O quadro de opções alargou-se em comparação com os dois Euros e o Mundial anterior, mas Fernando Santos é um homem que se sustenta mais no refinamento dos seus princípios do que na abordagem criativa e progressista que acaba por ser vista como mais dentro daquilo que é o futebol de hoje.
O trabalho de Fernando Santos na Federação Portuguesa de Futebol tem enormes méritos. A vitória no Euro 2016 teve muito da sua experiência acumulada com a seleção da Grécia, num Euro e num Mundial anteriores, bem como da noção das possibilidades que se abriam num grupo onde a história pesava como um elemento contraditório com o percurso de vários jogadores nos clubes. Para se ganhar uma competição pela primeira vez, a capacidade de contrariar o contexto tem um enorme peso. Para dar seguimento ao trabalho depois de se ser vitorioso, é necessário encontrar outros condimentos.
Mas mesmo que Fernando Santos não tenha sido capaz de inovar nas suas escolhas, vencer a Liga das Nações em 2019 e não falhar nenhuma qualificação para o Euro e para o Mundial, tem o mérito de saber navegar com sabedoria águas que nem sempre são calmas. Fernando Santos teve até o condão de conduzir este grupo de jogadores sem problemas de maior no balneário, o que marca uma enorme diferença para anteriores consulados. De alguma maneira, a abdicação de Rafa e os problemas revelados na gestão do seu contrato com a FPF vieram trazer algumas sombras para a rampa de lançamento deste Mundial. Daí que, mantendo os seus princípios, Fernando Santos se veja agora muito mais exposto à crítica.

Na cabeça do selecionador
Apontar 26 nomes para representar Portugal no próximo Mundial tem sido um exercício interessante de procura de acomodar ideias e preferências dentro de um número limitado de vagas. No entanto, aquilo que um jogador faz na Seleção nem sempre tem uma correlação direta com aquilo que o jogador faz nas suas equipas. Daí que faça algum sentido ver uma grande maioria dos selecionadores definirem o seu grupo de maneira mais espraiada no tempo, com pouca influência daquilo que é o “momento” atual do jogador. Ou, quando isso acontece, prender-se a opção com a ausência de algum jogador de nomeada nas escolhas mais habituais do selecionador.
No caso português, Pedro Neto e Diogo Jota serão as duas ausências devido a lesão. O avançado do Liverpool seria opção natural para a titularidade, por aquilo que oferece à equipa em termos de variabilidade, mas muito pela sua capacidade de leitura dos comportamentos de Cristiano Ronaldo. De alguma forma, a sua experiência em campo com Salah e Mané terminou por fortalecer a capacidade de Diogo Jota como titular na Seleção, pelo que será a ausência mais difícil de ser ultrapassada. Rafa poderia ser uma opção natural para surgir no seu lugar. Mas depois de ter abdicado da seleção, ficou claro nas palavras do seu treinador de que não teria passo atrás.
No fundo, restam poucas dúvidas sobre os 26 nomes que Fernando Santos chamará. Na defesa, haverá uma vaga a ser discutida entre António Silva e José Fonte. O facto do defesa do Lille ter falhado as duas últimas convocatórias deixou em aberto que as escolhas do selecionador seguissem outro caminho. Entre as várias possibilidades, o início de temporada de António Silva parecem abrir-lhe caminho para entrar nas opções. No meio-campo, haverá uma vaga a ser discutida entre Renato Sanches e Matheus Nunes. Nenhum deles está num particular momento de forma, mas trazem algo de disruptor a partir do banco. Na frente de ataque, duas vagas para três nomes. Gonçalo Guedes parece ser um nome muito do agrado do selecionador e com as ausências indicadas, vê espaço para confirmar uma dessas posições. Gonçalo Ramos e André Silva discutirão o último dos lugares na equipa que jogará este Mundial.
A convocatória
Guardando para mim o egocêntrico exercício de escolher os “meus 26”, o meu esforço de análise focou-se em enquadrar as opções de Fernando Santos, tentando antecipar a convocatória que será anunciada na tarde deste quinta-feira. Assim, aponto os nomes que creio virão ser escolhidos:
- Diogo Costa, Rui Patrício, José Sá;
- João Cancelo, Diogo Dalot, Nuno Mendes, Raphael Guerreiro;
- Pepe, Rúben Dias, Danilo Pereira, António Silva;
- João Palhinha, Rúben Neves, Vitinha, William Carvalho;
- Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Otávio, João Mário, Renato Sanches;
- Rafael Leão, João Félix, Ricardo Horta, Gonçalo Guedes;
- Cristiano Ronaldo, Gonçalo Ramos.
Curtas notas para as ausências. Anthony Lopes perdeu o comboio da seleção depois de ter ficado de fora de algumas convocatórias por pedido ao selecionador, sobretudo porque José Sá fez uma época de excelência na Premier League e assim garante a entrada na equipa. Mário Rui fez uma aparição de excelência nos últimos encontros da Liga das Nações, mas não deverá ser o suficiente para ultrapassar Raphael Guerreiro naquilo que o jogador do Dortmund oferece em termos de características. Ou seja, para as laterais, haverá um jogador mais vertical e um jogador mais associativo.
No meio-campo, João Moutinho acaba por falhar a competição pelo crescimento dos seus companheiros. Vitinha, que muitos viram como o Moutinho do futuro, já é presente. Matheus Nunes sofreu algum apagamento na saída para o Wolves e poderá perder o lugar para Renato Sanches, sendo que João Mário é um regresso às grandes competições num momento em que aparece numa das melhores formas da carreira. No ataque, algumas eventuais injustiças. Outro modelo de jogo poderia abrir espaço para Pedro Gonçalves ou até Paulinho. A necessidade de encontrar opções de rasgo poderia até trazer Jota, estrela do Celtic, a esta lista. Mas a dúvida prende-se mesmo em André Silva. O aparecimento de Gonçalo Ramos como um avançado de associação na frente de ataque poderá custar-lhe esta presença.
Amanhã toca a confirmar todas estas questões. Estarei na Manhã da SIC Notícias para antecipar a convocatória e na emissão especial da Antena 1, no direto da convocatória, para comentar as escolhas de Fernando Santos.
Discordo de três das opções. Para mim é claro que o quarto central, é, para já Tiago Djalo. Pura e simplesmente porque o jogo é pela seleção e não pelo Benfica, o António tem de amadurecer mais um pouco. Na linha média não convocava Otávio, e preferia Matheus Nunes, pois é um jogador mais explosivo, capaz de fazer a diferença. Na frente deve levar mais um ponta de lança, no caso, Vitinha, o jogar mais parecido com Diogo Jota.
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