Um outro Mundial (III)

Mais uma semana de intensa competição e muitas histórias para contar no Mundial 2022. Vou escrevendo sobre os jogos do dia no AbrilAbril, completando “Um outro Mundial”. Aqui fica o resumo da matéria dada.

2/12


Os dois Mundiais que Portugal quer ganhar

Se em campo tudo está encaminhado para Portugal alcançar o primeiro lugar do seu grupo e manter a esperança de conquistar o Mundial 2022, fora de campo jogam-se estratégias fundamentais para conquistar a co-organização do Mundial 2030.

Em campo, a fase de grupos fecha-se para os portugueses esta tarde. Tendo vencido as duas primeiras partidas e garantindo o apuramento, falta agora confirmar que Portugal passa em primeiro, podendo beneficiar desse lugar como uma vantagem para tentar chegar longe nesta prova. No discurso de Fernando Santos, o Mundial 2022 surge como uma possibilidade. Essa é a parte a que o nosso selecionador já nos habituou. Objetivos altos. A forma de os alcançar é que parece, este ano, conjugar-se de uma diferente forma. É à procura de evidenciar as características e as qualidades de Bernardo Silva e Bruno Fernandes que o Engenheiro organiza a equipa. Isso tem trazido mais posse de bola, maior capacidade de controlo das partidas e um Bruno a colocar-se como figura, com duas assistências e dois golos somados.

Mas as surpresas de Fernando Santos não se ficam por aqui. O reconhecimento da importância do controlo a partir dos seus homens do meio-campo tem obrigado Cristiano Ronaldo a acomodar-se a uma nova realidade em que, apesar de se manter como centro mediático do conjunto, desvanece-se a sua liderança noutros territórios. No jogo, percebe-se como as suas movimentações são pedidas exclusivamente na área do ponta-de-lança. Na conferência de imprensa, percebe-se a liberdade como o selecionador colocou Pepe acima do CR7 como o “monstro” do grupo. A vitória de Portugal perante a Coreia do Sul de Paulo Bento deverá levar a nossa seleção a evitar o confronto com o Brasil. Os canarinhos, no entanto, só mais tarde entrarão em campo. Mas a vantagem nos pontos e na diferença de golos que ambos transportam deverá ser suficiente para manter as duas equipas separadas até a uma eventual final.

2030 no horizonte

Para 2030 já não há contrato de Fernando Santos, nem as ambições mais otimistas de Cristiano Ronaldo lhe permitirão acreditar que possa ainda estar em campo. Mas, no Catar, Portugal trabalha arduamente para garantir a co-organização dessa prova, em conjunto com a Espanha e a Ucrânia. A Federação Portuguesa de Futebol tem tido a capacidade, ao longo da última década, de fazer crescer a sua influência nas principais organizações do futebol mundial, com a preparação e integração de quadros portugueses nas mais altas instâncias. O facto de ter, também, um dos jogadores mais mediáticos do mundo e um dos agentes mais influentes, foi permitindo encontrar lugar em mesas onde, tradicionalmente, Portugal era visto como um elemento menor. Esses tempos passaram. A conjugação de interesses com Espanha e a inclusão, mais tarde, da Ucrânia, fortaleceram a unanimidade europeia no voto por esta candidatura.

Mas com a decisão a ser tomada no Congresso da FIFA que se realizará em 2024, há muitos outros votos por conquistar. A América do Sul reunir-se-á em volta da candidatura conjunta de Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, evocando o centenário do primeiro Mundial jogado em terras uruguaias. África anseia a uma nova organização com a candidatura a solo de Marrocos. Mas divide-se perante uma candidatura intercontinental que junta Egito, Grécia e Arábia Saudita. Nesta última parecem concentrar-se os principais receios de concorrência. Pela influência que os países poderão granjear nas diferentes confederações e pela forma como os sauditas colocam em campo meios aparentemente infinitos. A contratação de Messi como embaixador para o Turismo, a compra do Newcastle, o desenvolvimento da sua seleção sob as rédeas de Hervé Renard e a ambição de ter Cristiano Ronaldo a jogar na sua Liga assim o expressam. Contra esse poder, Portugal exerce o trabalho dos diplomatas. Daí que a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, António Santos Silva e Ana Catarina Mendes, hoje, em substituição do primeiro-ministro António Costa, se possam revelar essenciais para que Portugal garanta, pelo menos, um dos dois Mundiais que quer ganhar.

3/12


O valor da ferramenta num Mundial que não é da cooperativa

O Catar disse adeus em campo, mas continua a contabilizar diferentes valores dados às ferramentas que, por aqui, se compram e se vendem. Num dia em que seleções vencedoras têm mais algo a provar, o negócio continua a não pertencer à cooperativa.

A má prestação da seleção catariana não deve transformar, de imediato, a sua organização num falhanço. O Catar conseguiu marcar, pela primeira vez, num grande palco, num processo que lhe permitiu, ao longo destes anos, jogar uma Copa América, uma Gold Cup e fazer amigáveis com várias seleções europeias. Nunca este país tinha sido tantas vezes falado no âmbito das competições futebolísticas. Esta experiência também permite colocar os catarianos como uma potencial força regional para os próximos anos, com o alargamento do Mundial a prometer novas visitas a este palco. Por outro lado, o fortalecimento da imagem do Catar enquanto destino turístico tem conquistado muito tempo de antena e atenção mediática, algo que nunca foi propriamente transtornado pelas liberdades políticas e sociais exercidas nos países que se dispõem a serem um postal ilustrado. A ferramenta foi cara, mas não deixa de ter resultados.

A questão é que, uma vez mais, não é de futebol que esta organização se trata. E enquanto nos relvados do Catar se realiza uma competição desportiva, as notícias que envolvem este país continuam a explicar-nos as dinâmicas de tudo o que gira em volta do evento. A Alemanha anunciou um acordo com o Catar para o fornecimento de gás natural durante os próximos quinze anos. O Departamento de Estado dos Estados Unidos da América aprovou a venda de um sistema anti-drone ao Catar num valor a rondar os mil milhões de dólares. As ferramentas que se vendem e trocam neste território valem muito mais do que o simples jogo de futebol ou o postal ilustrado. As linhas com que se cosem estes negócios permitem-nos comparar, também, a forma como as diferentes instituições reagiram aos problemas existentes ao longo da construção e realização do Mundial. Porque apesar do valor das vidas humanas ser o mais difícil de contabilizar, o espetáculo das compras e vendas tem que continuar.

Agora começa a sério

Metade das seleções participantes neste Mundial já fizeram as malas e, a partir de hoje, focamo-nos na corrida para encontrar o campeão. Com o início das eliminatórias, deixa de haver espaço para retificar o erro ou para jogar com o resultado. Uma equipa ganha e mantém o sonho de alcançar a glória, outra equipa terá que começar a preparar um novo ataque no futuro. A partir daqui, é o futebol em toda a sua crueza que passa a reinar. Os golos têm muito mais valor, tal como os deslizes, as emoções vivem-se ainda mais à flor da pele, os feitos individuais conquistam um peso coletivo. A partir de hoje, um recorde individual conta muito menos do que a história que pode ser escrita através de um golo marcado no momento decisivo. São aqueles momentos que nunca esqueceremos.

Para o primeiro dia de eliminatórias, encontramos duas equipas que não chegaram a convencer na fase de grupos, apesar de ambas terem passado em primeiro. Os Países Baixos não escondem sequer a fortuna que lhes tocou, conseguindo vencer o Senegal e empatar com o Equador antes de fechar as contas perante o Catar. Coletivamente, a equipa laranja está demasiado longe de qualquer exemplo prévio da sua história. Individualmente, o Mundial vai servindo para confirmar a qualidade de Frenkie de Jong, que todos conhecíamos, e a capacidade de Cody Gakpo, que todos temos que conhecer. A Argentina começou o Mundial da pior maneira e a sua fé em Messi parece maior do que a capacidade do pequeno astro para carregar a equipa. Valeu o aparecimento de Enzo Fernández, um autêntico rebelde numa equipa à procura de si mesma, para dar equilíbrio a um conjunto que tem estrelas suficientes para continuar a decidir.

4/12

O Mundial do Irão ainda não acabou

Do campo saíram de cabeça erguida, durante um dos períodos mais tensos das suas vidas, os jogadores iranianos. Mas, para eles e para os adeptos e adeptas que deram a cara nas bancadas do Catar, as consequências deste Mundial ainda estão por descobrir. A nós o dever de nos mantermos vigilantes.

A seleção iraniana marcou um capítulo no Mundial 2022. Todo o seu caminho para aqui chegar se foi transformando num novelo de complexidades. O futebol e aqueles que o praticam não passam imunes às dinâmicas sociais de cada país, algo que aumenta tensões quando, nesse país, não se gozam de liberdades que se encontram fora dele. As palavras de Sardar Azmoun ou Mehdi Taremi foram fortes, se pensarmos que no contexto do seu país, a liberdade de expressão está fortemente limitada. O gesto coletivo de não cantar o hino transportou o protesto para a beira do apito inicial do árbitro, sendo impossível de disfarçar o incómodo que causou nos governantes do país e o peso que exerceu sobre todos aqueles que tiveram a coragem de o demonstrar.

Mas todos os protestos têm um lado b. O anúncio de reuniões entre enviados do governo iraniano e os jogadores transformaram este Mundial num enorme desafio humano a estes corajosos homens. Os protestos, em campo, foram substituídos por uma enorme vontade de vencer, demonstrando a mesma coragem no jogo que demonstraram nas ações. Mas até os mais fortes soçobram. Com as suas famílias ameaçadas, com um contínuo de mensagens de ódio a chegarem até si, com sinais evidentes de que os adeptos, nas bancadas e nas ruas do Catar, eram vigiados e incomodados por agentes iranianos, a equipa do Irão saiu de cabeça erguida e com o seu valor reconhecido, mas não deixa de ter enormes desafios pela frente. Cada mulher que deu a cara na bancada, cada homem que ergueu a sua voz e todos estes jogadores merecem que continuemos atentos porque, é certo, para eles o Mundial não terminou com a eliminação em campo.

Os que gerem e os que giram

A França geriu a sua equipa na derradeira jornada para se apresentar refrescada na partida dos oitavos-de-final. No entanto, a derrota perante a Tunísia e a chamada das suas principais estrelas a campo, nos minutos finais, para tentar evitar o descalabro, mostrou que o facto de não se temerem as consequências não significa que não existam consequências. Didier Deschamps fez demasiadas adaptações e acabou por colocar em causa a gestão pensada, com jogadores como Mbappé claramente incomodados por serem chamados a um jogo onde não queriam estar. Quem também não quis jogar foi a Polónia que, a perder por dois a zero, apostou tudo na vantagem que detinha nos pontos disciplinares. Uma estranha forma de sobreviver, a valer-lhes presença no jogo de hoje contra os campeões em título.

A Inglaterra é uma equipa de enorme qualidade, mas também de grandes altos e baixos na forma de evidenciar as suas qualidades. A um grande jogo frente ao Irão, com goleada associada, sucedeu uma pálida exibição perante os Estados Unidos. A uma primeira parte frágil perante o País de Gales, uma segunda parte de festa e golos. Tudo para que agora entrem em campo frente a um Senegal que foi construindo, peça a peça, uma prestação muito sólida no Mundial. Mesmo sem Sadio Mané, a capacidade defensiva dos senegaleses coloca-os num patamar competitivo muito elevado, apresentando a equipa de Aliou Cissé suficientes alternativas para ir a jogo para ganhar. Eventualmente o primeiro jogo realmente competitivo destes oitavos-de-final, com a Inglaterra a ter que superar o seu habitual desconforto frente a adversários africanos e o Senegal a tentar repetir a memorável caminhada de 2002.

5/12


O resgate da camisola verde e amarela

Contra aqueles que quiseram transformar uma camisola num símbolo de privilégio e desigualdade, o futebol volta a aparecer como arma de luta social que defende a diversidade e evidência a liberdade. Hoje é dia de Brasil.

A Seleção brasileira foi sempre um território de comunhão, de exaltação e de promoção de uma igualdade bem difícil de encontrar em qualquer outra área da vida no Brasil. Também por isso, a camisola verde e amarela sempre transportou consigo esse peso e significado de poder transformar a vida e entregar um mundo melhor. Num Brasil de enormes tensões sociais e dividido numa batalha política onde uma das partes procurou polarizar todo e qualquer gesto público, a seleção de futebol arriscou-se a perder relevância, por incapacidade de representar a enorme diversidade que constitui a verdadeira essência do brasileiro. Um risco demasiado alto e demasiado trágico.

Com a camisola da seleção brasileira de futebol, o negro encontrou um caminho para ser aceite como figura nacional. Se Artur Friedenreich, filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra brasileira, ainda foi impedido, nos anos 20 do século passado, de representar o seu país, fruto da lei racial do presidente Epitáfio Pessoa, Leónidas da Silva representou a negritude brasileira com a seleção em 34 e 38, sendo ele a grande figura da equipa nesta segunda ocasião. Mas entre tantos que, com os anos, lhe foram sucedendo, Pelé, o enorme Pelé, transformou significativamente o espaço mediático da seleção, não só pela forma como, para além do Brasil, transportou a imagem da sua liderança, no futebol, no entretenimento ou na publicidade, tornando-se numa referência dessa possibilidade que se abria para todos os não privilegiados da terra brasileira.

A camisola verde e amarela deu espaço ao negro, ao mulato, ao pobre, ao desfavorecido, ao homem do interior, dando voz a todos aqueles que são tão brasileiros como qualquer outro. Era esse risco que se corria, que se sentia, no receio de ser interpretado sob a luz de uma nova verdade que queria transformar a camisola da Seleção na imagem dos brancos e ricos. Por isso não deixou de ser uma verdadeira dádiva do futebol ver Richarlison ser titular e marcar os primeiros golos do Brasil neste Mundial. Das suas origens humildes construiu-se como jogador, no América Mineiro e no Fluminense, viajando depois para Inglaterra, onde tem subido na escala da Premier League até representar no Tottenham. Mas evidencia-se, também, como voz e símbolo, associando-se a causas sociais e intervindo na luta contra o racismo.

Desde 1994 que a Seleção brasileira, em Mundiais, se apresenta com uma maioria de negros no seu elenco. Desde sempre que o futebol foi, e continua a ser, o grande elevador social disponível para todos os jovens, de todas as origens, em terras brasileiras. Sem qualquer dúvida que na sua cultura é também esta prática desportiva central na forma de definir uma identidade, tal a maneira como esta transcorre para o cinema, para a música, para a arte. Também por isso a camisola verde e amarela tem que ser de todos, um símbolo de liberdade e de poder do povo, uma carta para o mundo de um país que cresceu para ser mais forte, quanto mais se abriu para a diversidade em que se formava. Também por isso, sempre que uma camisola verde e amarela sobe ao campo, devemos lembrar-nos que é uma camisola que se define como liberdade.

Uma outra realidade

O Japão venceu o seu grupo e defronta a Croácia na outra partida dos oitavos-de-final que tem lugar hoje. Se todos, no dia do sorteio, definimos o destino dos japoneses, a equipa nipónica insistiu em demonstrar-se como uma outra realidade. Sendo certo que parte dos seus jogadores atuam na Europa e que são reconhecidos entre os melhores, não deixou de causar enorme surpresa a forma como bateram a Alemanha, que acabou por ficar de fora da prova, e a Espanha, que ainda se mantém como favorita. Num Mundial disputado em território asiático e com um recorde batido de três equipas dessa Confederação presentes nas rondas a eliminar, parecem ser os japoneses a seleção que pode levar mais longe a representação deste continente.

6/12


O Portugal sem medo de existir

As seleções são espaços de identidade nacional que se constroem, perante o nosso olhar, numa imensa diversidade. Espaços onde a liberdade acaba por se recriar perante as amarras da história. Uma viagem às mudanças que cem anos provocaram no nosso país, no mesmo dia em que a seleção de Marrocos se confronta com Espanha num campo de futebol.

Há cem anos, do Casal da Parafuja onde nasceu o meu avô paterno, Portugal era algo que não se conseguia distinguir no seu todo. Uma realidade que se mimetizava um pouco por quase todo o território continental. Ser português era uma coisa que se apalpava às escuras, por entre umas curtas visitas à escola primária e uma realidade de trabalho e alguma miséria que não largava o corpo de todos e todas as que aqui nasciam. Durante a juventude dos meus antepassados, Portugal era uma realidade que se escrevia como um feito mítico, transtornado de histórias impossíveis de viagens que iam muito mais longe do que os olhos podiam ver, vergado ao peso de heróis que dificilmente se cruzavam com os suaves portugueses pela rua.

Foi também neste espaço de cem anos que muitos portugueses foram para lá dessa realidade de vistas curtas. O meu avô materno cresceu aventureiro e fez-se à vida, pela Alemanha, França e Canadá, seguramente à procura de um ser-se português que por cá não lhe chegava. Mas ao Portugal que se abria aos poucos acabou por regressar, para tentar entender aquilo que à sua frente se criava. Era um Portugal aberto a possibilidades, mas também sujeito a novas desilusões, na maneira como tudo se transformava para, de uma ou outra maneira, tudo ficar na mesma. O Portugal que os meus avôs e avós deixaram, era bem melhor do que aquele em que tinham nascido, mas talvez aquém daquele que haviam sonhado.

Mas Portugal não é apenas aquilo que se vive quando se é português. Portugal é, sobretudo, aquilo que todos vamos aprendendo como possibilidade de se construir. Daí que apesar de ainda nos revermos nas descrições sociais de Eça de Queirós, na tristeza de Ruy Belo ou no atrevimento de Alexandre O’Neill, Portugal alargou-se para ser muito mais do que o peso da sua história. Tantos e tantas nos ajudaram, exatamente, a quebrar essas amarras. Se no passado se prenderam e tentaram limitar as novas expressões que os portugais do mundo nos sugeriam, hoje ser-se português não é mais uma questão de cores, de falar criolo ou com sotaque brasileiro, ser-se português é ter a liberdade para sermos as pessoas que quisermos ser.

Portugal deixou de ser cinzento, mas não virou cara à luta. Uma equipa de futebol a disputar um Campeonato do Mundo é uma representação disso mesmo. Na maneira como, apesar reconhecermos limitações ao desenvolvimento de um coletivo por parte de um treinador que já nos deu quase tudo a ganhar, encontrarmos na liberdade que este oferece aos seus jogadores um palco para transformarmos o nosso jogar. Na esperança que a maioria ainda continua a colocar nos jogadores que nos levaram aos mais épicos momentos da nossa história futebolística, ombro a ombro com a capacidade de entendermos como novas figuras se elevam como referências desta equipa. Na sempre e inquestionável maneira de querermos melhor para todos aqueles que se envolvem na perseguição de um objetivo comum.

E, no final de tudo, futebol

A história das relações entre Espanha e Marrocos é feita de conflito. Um conflito que se mantém quase diário, nas fronteiras que as cidades autónomas espanholas em território marroquino oferecem como proximidade, num mar navegável a unir as costas dos dois países. Um conflito que se alarga na enorme comunidade de migrantes marroquinos que encontraram em Espanha uma esperança de uma vida melhor, condicionada pelas condições em que muitos deles acabam por viver. E, como em todos os grandes conflitos, no final de tudo, haverá a possibilidade de o dirimir num campo de futebol. A seleção de Marrocos é um fruto da sua diáspora. Catorze dos vinte e seis jogadores nasceram na Europa, mas encontraram no país dos seus ascendentes o conforto para voltar a casa. Defrontar a Espanha é, de certa maneira, quase um estado de espírito. Muito mais do que um jogo.

7/12

A construção do Portugal futuro

No jogo encontramos um exemplo pelo qual lutar. Um outro Portugal possível que se escreve pela poesia e se desenha no nosso horizonte.

Escreveu o poeta Ruy Belo “mas isso era o passado e podia ser duro edificar sobre ele o portugal futuro”. Um futuro que ontem apareceu num relvado do Catar com a cara sorridente do presente. Um outro Portugal era mesmo possível. Um Portugal onde são premiados aqueles que podem fazer melhor, oferecendo-lhes responsabilidades e condições para mostrar o seu valor. Um Portugal que abre portas para a afirmação do seu talento, gerindo-o em condições, alimentando ideias que permitem obter melhores resultados.

É o Portugal que ambicionamos para além do futebol. Um Portugal que respeita as suas figuras, mas não hesita em encontrar os elementos que prometem um futuro mais risonho. Há um claro odor a justiça em tudo aquilo que vimos acontecer frente à Suíça. Era evidente para quem via os jogos, analisava os dados. Transformou-se numa receita simples para ultrapassar um adversário que prometia dificuldades e transporta-nos para um confronto com Marrocos que também escreveu uma página histórica no dia de ontem.

Haverá tempo para olhar para o caminho que Portugal tem a fazer neste Mundial. Mas é importante olhar para a oportunidade de transformação que estas semanas nos tem oferecido. Um Mundial que nasceu torto, mas que não deixa nunca de ser um palco onde o mundo lê as suas tendências, prova as suas agruras, desenha as suas saídas. O que fica para trás e o que aí virá em cruzamento. Podia ser duro, mas também imperativo, assim construir o futuro que desejamos.

Comentários

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.