O lugar que ocupamos, o mundo onde vivemos

Vinícius Júnior, Dani Alves, Sérgio Conceição. Atores de situações onde encontramos exemplos sobre o impacto das ações no mundo do desporto na nossa sociedade. Para ler na Gazeta da semana.

Um mundo que não serve os melhores

Pelo seu talento, pela sua capacidade de mudar o jogo, pela forma como carrega a sua equipa, Vinícius Júnior está marcado para ser um dos melhores jogadores do mundo. Aos 23 anos, somando a sexta temporada no Real Madrid, é um valor confirmado no estrelato do futebol. Acontece que estes seis anos têm sido vividos numa Espanha onde cresceu um partido de extrema-direita que abraça todo um discurso de desigualdade e exclusão. Uma Espanha onde o grito racista na bancada se tornou um gesto habitual. Quando vemos Vinícius a combater no relvado, entre o encanto do jogador que faz tudo para vencer e a questão moral de como se reage ao insulto constante, sabemos que há coisas que têm que parar. Quando escutamos Vinícius dizer que a sua vontade para jogar futebol se esvai por esta perseguição constante, percebemos que o mundo em que vivemos não serve os melhores.

A caminhada da vergonha

Dani Alves é um violador condenado. A vítima, as diversas testemunhas, o Tribunal, a sua ex-mulher, o mundo não tem dúvidas. Dani Alves violou uma mulher numa discoteca em Barcelona e foi condenado por isso a quatro anos e seis meses, mais uma indemnização de 150 mil euros. Fez-se justiça, embora nestes casos a justiça nunca pode ressarcir a vítima, que terá, para sempre, que viver com a marca deixada por um ato abusivo. Mas a justiça poderia ser mais fiel à gravidade do caso, e às consequências do mesmo, quando aplica uma fiança de um milhão de euros para deixar que Dani Alves saia em liberdade. Pior, Dani Alves, o violador, não só saiu, como o fez numa autêntica caminhada da vergonha, de cabeça erguida perante o crime que cometeu e, ainda por cima, ladeado por uma advogada que ignora que o cumprimento do seu trabalho é uma afronta à sua condição de mulher. As mulheres continuarão a ser violadas, os homens ricos continuarão a sair de cabeça erguida, o mundo continua a precisar de ser transformado.

O lugar do privilégio

Sempre que um treinador ou um dirigente, no final de uma partida, caminha pelo relvado para reclamar junto de uma equipa de arbitragem, está a transportar para o cenário da sua existência uma confissão da sua incapacidade para fazer o seu trabalho. Normalmente fazem-no os treinadores e os dirigentes que perdem os jogos, ensaiando assim uma desculpa para o que não conseguiram fazer na partida. Quase sempre esse tipo de atuação soa a mau teatro. No sul de Espanha, no final de uma partida de Sub-9, onde jogava o seu filho mais novo, Sérgio Conceição e outro dos seus filhos ensaiaram o mesmo número. Caminharam pelo relvado em direção a um árbitro, que só viu neles dois desconhecidos familiares de alguma das crianças, questionaram-no sobre algum lance do jogo e invadiram o seu espaço pessoal tocando-lhe na cara. O que se seguiu a este momento será alvo de esclarecimento em tribunal. Mas aquilo que pudemos ver foi Sérgio Conceição a exercer o seu lugar de privilégio num enquadramento onde a sua missão, a mais importante, era só uma: apoiar o seu filho mais novo. Ao não fazê-lo, falhou.

Uma Champions de afirmação

Não houve surpresas nos quartos-de-final da Champions Feminina, mas houve confirmações. Barcelona e Chelsea, de um lado, Lyon e PSG, do outro, vão lutar por um lugar na final. Mas serve este momento para sublinhar a forma como, sobretudo o Benfica e o Brann, demonstraram que o crescimento do futebol praticado por mulheres nos levará para um quadro de maior competitividade muito em breve. Perante as campeãs francesas, o Benfica demonstrou competência tática, organização e qualidade técnica para igualar os jogos em vários momentos. Contra a melhor equipa do mundo, o Brann provou tudo isso, como ainda acrescentou capacidade física para lutar até aos últimos minutos da eliminatória, conjugando essa demonstração com um atrevimento estratégico que o fez empurrar o Barcelona para a sua área. Bons jogos, com boa disputa, numa prova de elite. Venham então as decisões.

Eu por aí

Depois de uma paragem para fechar o quadro de equipas do próximo Euro e para a preparação das seleções, está de regresso a Liga Portuguesa. Foi sobre o momento de cada equipa e a antevisão da Jornada 27 que falei com o Paulo Sérgio e o Victor Martins no Túnel de Acesso.

Agenda

Sábado, 30/3, 20h30 – Estoril – FC Porto – Antena 1
Quarta-feira, 3/4, 20h15 – Manchester City – Aston Villa – DAZN

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