[Recuperação de um arquivo desaparecido, com a publicação de artigos que, ao longo do tempo, foi escrevendo para o Expresso. Este foi escrito em agosto de 2019.]
Não era um segredo assim tão bem guardado. Aos 24 anos, João Rodrigues tornou-se no quinto português a vencer a Volta a Portugal neste século, emergindo de uma equipa do W52 – FC Porto que apresentava mais do que um favorito a vencer a competição. A história do jovem de Faz Fato, Tavira, cujo nome já deviam conhecer.
Foi apenas a segunda vez que correu a Volta a Portugal, mas as suas credenciais estavam há muito apresentadas. Depois de se ter tornado profissional em Tavira, João Rodrigues chegou à W52 – FC Porto em 2016 para continuar a crescer enquanto ciclista. Com a equipa da sua terra, foi pontificando nos Campeonatos Nacionais de Sub-23, terminando no Top 10 por quatro vezes, duas em cada especialidade (estrada e contrarrelógio)
Na segunda temporada ao serviço dos azuis e brancos, com apenas 22 anos, venceu o Prémio de Montanha da Volta a Castilla y León, mas precisou de esperar mais um ano para se estrear na Volta a Portugal. Em 2018, em Fafe, onde se disputou o contrarrelógio da última etapa, terminou em segundo lugar, deixando água na boca em dia de festa de Raúl Alarcón. João Rodrigues começava a deixar de ser uma promessa para passar a ser uma certeza.
Este ano, a lesão que afetou Alarcón, o líder da sua equipa, abriu as portas para a aparição do jovem algarvio, ainda que não se houvesse decidido que seria ele o chefe-de-fila, bem pelo contrário. Na equipa do FC Porto, para além dos já consagrados Gustavo Veloso e Ricardo Mestre (outro algarvio, vencedor da Volta em 2011), também Edgar Pinto e António Carvalho apresentavam condições para lutar pela vitória. À parte de Mestre, todos terminaram nos primeiros cinco lugares.
No entanto, para Fernando Gregório, que acompanhou esta edição da volta ao serviço da Rádio Horizonte, de Tavira, “logo em Viseu se considerava o João entre os favoritos, era uma ideia unânime entre as pessoas da comunicação social e mesmo algumas ligadas à organização. Não se conhecendo o momento de forma do Gustavo Veloso, que era suplente e entrou na corrida para substituir o Alarcón, colocávamos os dois como os mais fortes da W52, com Jóni Brandão como o outro candidato”.
Foi ao microfone desta rádio que João Rodrigues reconheceu a “emoção indescritível” de vencer a Volta na derradeira etapa. Mas, de todas as formas, a temporada de 2019 ficará marcada no seu percurso pela excelência dos resultados. Vence a Volta a Portugal com vitórias no contrarrelógio final e na chegada mítica à Torre, depois de já ter vencido a Volta ao Alentejo com uma exibição incrível no contrarrelógio de Castelo de Vide e de se ter batido com os ciclistas do World Tour na Volta ao Algarve, onde terminou em sétimo lugar nas etapas com chegada à Fóia (Serra do Monchique) e Serra do Malhão.
O natural próximo passo é a saída para uma equipa internacional, correndo o rumor de que a Movistar, uma das mais fortes equipas do World Tour, tem acompanhado a sua evolução de perto ao longo da época. João Rodrigues senta-se numa galeria de corredores como Manuel Zeferino, Joaquim Gomes, Jorge Silva, Orlando Rodrigues e Nuno Ribeiro, que venceram a Volta antes de completar 25 anos, superando outros nomes grandes da bicicleta nacional, como José Azevedo, Cândido Barbosa, Rui Costa ou Sérgio Paulinho, que apesar de largos feitos nos respetivos currículos, nunca venceram a “Grandíssima” portuguesa.
Depois desta Volta a Portugal, não resta qualquer desculpa para que desconheçam o nome de João Rodrigues.