Defender identidade, proclamar identidades

Moreno Teixeira entrou em campo perante o Benfica com a ideia de expor a identidade da sua equipa a um desafio exigente. Xabi Alonso entrou em campo perante o Bayern com a ideia de utilizar as identidades que o conhecimento dos seus jogadores podem adaptar. O futebol de hoje perante as questões que o jogo lhe impõe.

Um Vitória a expor-se às fragilidades

Estando nas bancadas do Estádio da Luz no passado sábado, dava para perceber muito bem a ideia do Vitória SC de Moreno. A equipa montara-se para ter bola, para contestar dessa forma um Benfica que se demonstra insaciável na procura da posse para desmontar os seus adversários. Era uma ideia arriscada, que cedo parecia desmoronar perante a mobilidade dos atacantes do Benfica no primeiro golo e a forma como os encarnados aplicavam a sua capacidade defensiva para lançar transições que expunham a falta de velocidade no corredor central defensivo da equipa do Vitória.

Ainda assim, era difícil contestar uma opção de Moreno Teixeira que procurava, dentro daquela que é a identidade da sua equipa, cimentar um projeto que tem alcançado bons resultados e que promoveu o Vitória para lugares que, sendo seus historicamente, não seriam os mais expectáveis no início da temporada. Os vimaranenses caíram com as suas ideias. Na tentativa de chamar Dani Silva para ser um terceiro central, a equipa queria, acima de tudo, manter a qualidade com bola a partir de trás que Bamba costuma oferecer. Perdeu capacidade no meio-campo, mas encarou, acima de tudo, aquelas que são as suas fragilidades. Certas ideias, na Liga Portuguesa, só se quebram quando se joga contra os grandes. Assim foi com o Vitória.

Não restam dúvidas que o Vitória sai mais conhecedor das suas capacidades do jogo na Luz. Não restam dúvidas que Moreno terá agora mais informação para elaborar a sua ideia de jogo. Pelas palavras de André Silva, os jogadores saem motivados pela coragem que a equipa conseguiu demonstrar, apesar das falhas e da goleada sofrida. Aliás, ouvindo Moreno, percebe-se melhor aquilo que acontece no seio deste conjunto. Se é certo que o contexto do Vitória e aquilo que Moreno demonstrou enquanto jogador parecem levar-nos a olhar os vimaranenses como uma equipa de raça e luta, a realidade é que o Vitória procura, dentro do lote de jogadores que tem à sua disposição, criar uma ideia que não só dá conforto à generalidade dos jovens em evolução, como lhes desenha um caminho para crescer e valorizar dentro da realidade de todos os clubes portugueses, o de criar oportunidades de mercado.

Um Leverkusen a corresponder aos desafios

No mesmo fim-de-semana pudemos perceber os desafios que são hoje lançados às equipas que procuram alcançar o topo. O exemplo daquilo que hoje em dia está a ser traçado dentro do futebol aparece sob a face de Xabi Alonso no Bayer Leverkusen. O encontro frente ao Bayern de Munique vai sendo vendido como uma vitória tática, mas acaba por ser, acima de tudo, uma demonstração do que pode ser um jogo onde os jogadores evoluíram para traçar, eles próprios, o caminho que o jogo pede. Ou seja, a grande valia de Xabi Alonso não passa pela sua genialidade técnica perante um conjunto que se lhe espera superior, mas sim aquilo que foi desenvolvido no seu trabalho para, perante desafios complexos, a resposta da equipa ser simples, direta e confortável para os jogadores que a compõem.

Curiosamente, também chamando um médio para se acomodar no centro da linha de centrais, Xabi Alonso foi a jogo procurando ter bola. E conseguiu! Frimpong foi um lateral, pela direita, a aparecer muitas vezes projetado na área. A segurança da linha defensiva era coberta por Palacios e Demirbay, bem próximos, com Diaby, Wirtz e Adli a trabalharem sempre por dentro. Abdicou de presença na área rival, mas dominou em posse e, mesmo estando a perder ao intervalo, obrigou o Bayern a fazer trocas para aguentar aquilo que lhe impunha. Logo na primeira parte se sentia que o Leverkusen apresentava uma variabilidade de soluções que estaria capaz de reagir perante o crescendo do conjunto de Munique. Mas a segunda parte demonstrou isso de forma ainda mais intensa. Vimos um Leverkusen empurrado para perto da sua área e imensamente perigoso na forma como contra-atacava o seu rival, transformando as fraquezas em força.

Em suma, o Bayer Leverkusen de Xabi Alonso, em noventa minutos, foi equipa de posse, a enfrentar com bola a pressão do rival, foi equipa capaz de pensar em sair mais longo quando se adivinhava previsível, foi conjunto de bloco curto para se defender do crescendo do rival, aproveitando, em todos os momentos, o talento dos seus jogadores que corresponderam, sem substituições até aos 84 minutos, ao que o jogo lhes pedia. Havendo um treinador que auxilia os jogadores, que os prepara em treino para serem capazes de decidir conforme o momento, são os jogadores que se vão definindo dentro daquilo que o jogo e o adversário lhes vai impondo como desafio. A riqueza da Bundesliga, como tantas vezes Sérgio Conceição já sublinhou, tem que ver com este entendimento do jogo como algo dinâmico e de mutação constante. É também o jogo que já vemos em muitos dos encontros da Premier League ou da Liga dos Campeões. É esse o desafio que se coloca às equipas portuguesas para crescerem naquilo que é o elevado conhecimento técnico que as suas equipas técnicas detêm.

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